quarta-feira, março 03, 2010

Insônia


Com teu cheiro
E o gosto do teu beijo
Eu me perco
Me largo
Nas demoras
Derradeiras auroras
A noite devia
Ter 24 horas.

3 comentários :

  1. Anônimo disse...

    Do Ler e Escrever

    "De todo o escrito só me agrada aquilo
    que uma pessoa escreveu com o seu
    sangue. Escreve com sangue e
    aprenderás que o sangue é espírito.
    É difícil compreender sangue alheio: eu
    detesto todos os ociosos que lêem. O
    que conhece o leitor já nada faz pelo
    leitor. Um século de leitores, e o próprio
    espírito terá mau cheiro.
    Ter toda a gente o direito de aprender a
    ler é coisa que estropia, não só a letra
    mas o pensamento.
    Noutro tempo o espírito era Deus;
    depois fez−se homem; agora fez−se
    populaça.
    O que escreve em máximas e com
    sangue não quer ser lido, mas
    decorado. Nas montanhas, o caminho
    mais curto é o que medeia de cimo a
    cimo; mas para isso é preciso ter pernas
    altas. Os aforismos devem ser
    cumeeiras, e aqueles a quem se fala
    devem ser homens altos e robustos.
    O ar leve e puro, o próximo perigo e o
    espírito cheio de uma alegre malícia,
    tudo isto se harmoniza bem. Eu quero
    ver duendes em torno de mim porque
    sou valoroso. O valor que afugenta os
    fantasmas cria os seus próprios
    duendes: o valor quer rir.
    Eu já não sinto em uníssono convosco;
    essa nuvem que eu vejo abaixo de mim,
    esse negrume e carregamento de que
    me rio, é exatamente a vossa nuvem
    tempestuosa.
    Vós olhais para o alto quando aspirais a
    vos elevar. Eu, como estou alto, olho
    para baixo.
    Qual de vós pode estar alto e rir ao
    mesmo tempo?
    O que escala elevados montes ri−se de
    todas as tragédias da cena e da vida.
    Valorosos, despreocupados,
    zombeteiros, violentos, eis como nos
    quer a sabedoria. É mulher e só
    lutadores podem amar.
    Vós dizeis−me: "A vida é uma carga
    pesada". Mas para que é esse vosso
    orgulho pela manhã e essa vossa
    submissão à tarde?
    A vida é uma carga pesada: mas não
    vos mostreis tão aflitos. Todos somos
    jumentos carregados.
    Que parecença temos com o cálice de
    rosa que treme porque o oprime uma
    gota de orvalho?
    É verdade: amamos a vida não porque
    estejamos costumados à vida, mas ao
    amor.
    Há sempre o seu quê de loucura no
    amor; mas também há sempre o seu
    quê de razão na loucura. E eu, que
    estou bem com a vida, creio que para
    saber de felicidade não há como as
    borboletas e as bolhas de sabão, e o
    que se lhes assemelhe entre os
    homens.
    Ver revolutear essas almas aladas e
    loucas, encantadoras e buliçosas, é o
    que arranca a Zaratustra lágrimas e
    canções.
    Eu só poderia crer num Deus que
    soubesse dançar.
    E quando vi o meu demônio,
    pareceu−me sério, grave, profundo e
    solene: era o espírito do pesadelo. Por
    ele caem todas as coisas.
    Não é com raiva, mas com riso que se
    mata. Adiante! Matemos o espírito do
    pesadelo!
    Eu aprendi a andar; por conseguinte
    corro. Eu aprendi a voar portanto não
    quero que me empurrem para mudar de
    lugar.
    Agora sou leve, agora vôo: agora vejo
    por baixo de mim mesmo, agora salta
    em mim um Deus".
    Assim falou Zaratustra.
    Autor:Friedrich Nietzsche (Assim falou Zaratustra)
    Abraços julie lev

  2. Anônimo disse...

    A inveja
    aniquilou−me!" Assim falou o mancebo,
    e chorou amargamente. Zaratustra
    cingiulhe a cintura com o braço e levouo
    consigo. Depois de andarem juntos
    durante algum tempo, Zaratustra
    começou a falar assim:
    "Tenho o coração dilacerado. Melhor do
    que as tuas palavras, dizem−me os teus
    olhos todo o perigo que corres.
    Ainda não és livre, ainda procuras a
    liberdade.
    As tuas buscas desvelaram−te e
    envaideceram−te de maneira excessiva.
    Queres escalar a altura livre; a tua alma
    está sedenta de estrelas; mas também
    os teus maus instintos têm sede de
    liberdade.
    Os teus cães selvagens querem ser
    livres; ladram de prazer no seu covil
    quando o teu espírito tende a abrir todas
    as prisões.
    Para mim, és ainda um preso que sonha
    com a liberdade. Ai, a alma de presos
    assim torna−se prudente, mas também
    astuta e má.
    O que libertou o teu espírito necessita
    ainda purificar−se. Ainda lhe restam
    muitos vestígios de prisão e de lodo: é
    preciso, todavia, que a tua vista se
    purifique.
    Sim; conheço o teu perigo; mas por
    amor de mim te aconselho a não
    afastares para longe de ti o teu amor e a
    tua esperança!
    Ainda te reconheces nobre, assim como
    nobre te reconhecem os outros, os que
    estão mal contigo e te olham com maus
    olhos. Fica sabendo que todos tropeçam
    com algum nobre no seu caminho.
    Também os bons tropeçam com algum
    nobre no seu caminho, e se lhe chamam
    bom é tão−somente para o pôr de lado.
    O nobre quer criar alguma coisa nobre e
    uma nova virtude. O bom deseja o velho
    e que o velho se conserve.
    O perigo do nobre, contudo, não é
    tornar−se bom, mas insolente,
    zombeteiro e destruidor.
    Ah, eu conheci nobres que perderam a
    sua mais elevada esperança. E depois
    caluniaram todas as elevadas
    esperanças.
    Agora têm vivido abertamente com
    minguadas aspirações, e apenas
    planearam um fim de um dia para outro
    "O espirito é voluptuosidade" – diziam. E
    então o se espirito quebrou as asas;
    arrastar−se−à agora de trás para diante,
    maculando tudo quanto consome.
    Noutro tempo pensavam fazer−se
    heróis; agora são folgazões. O herói é
    para ele aflição e espanto.
    Mas, por amor de mim e da minha
    esperança te digo: não expulses para
    longe de ti o herói que há na tua alma!
    Santifica a tua mais elevada esperança!"
    Assim falou Zaratustra.

  3. Anônimo disse...

    Da Árvore da Montanha

    Os olhos de Zaratustra tinham visto um
    mancebo que evitava a sua presença.
    E, uma tarde, ao atravessar sozinho as
    montanhas que rodeiam a cidade
    denominada Vaca Malhada, encontrou
    esse mancebo sentado ao pé de uma
    árvore, dirigindo ao vale um olhar
    fatigado. Zaratustra agarrou a arvore a
    que o mancebo se encostava e disse:
    "Se eu quisesse sacudir esta árvore
    com as minhas mãos não poderia; mas
    o vento que não vemos açoita−a e
    dobra−a como lhe apraz. Também a nós
    mãos invisíveis nos açoitam e dobram
    rudemente".
    A tais palavras, o mancebo ergueu−se
    assustado, dizendo: "Ouço Zaratustra, e
    positivamente estava a pensar nele".
    "Por que te assustas? O que sucede à
    arvore sucede ao homem.
    Quanto mais se quer erguer para o alto
    e para a luz, mais vigorosamente
    enterra as suas raízes ara baixo, para o
    tenebroso e profundo para o mal".
    "Sim; para o mal! − exclamou o
    mancebo − Como é possível teres
    descoberto a minha alma?" Zaratustra
    sorriu e disse: "Há almas que nunca se
    descobrirão, a não ser que se principie
    por inventá−las".
    "Sim; para o mal! − exclamou outra vez
    o mancebo.
    Dizias a verdade, Zaratustra. Já não
    tenho confiança em mim desde que
    quero subir às alturas, e já nada tem
    confiança em mim. A que se deve isto?
    Eu me transformo muito depressa: o
    meu hoje contradiz o meu ontem. Com
    freqüência salto degraus quando subo,
    coisa que os degraus me não perdoam.
    Quando chego em cima, sempre me
    encontro só. Ninguém me fala; o frio da
    solidão faz−me tiritar. Que é que quero,
    então, nas alturas? O meu desprezo e o
    meu desejo crescem a par; quanto mais
    me elevo mais desprezo o que se
    eleva? Como me envergonho da minha
    ascensão e das minhas quedas! Como
    me rio de tanto anelar! Como odeio o
    que voa! Como me sinto cansado nas
    alturas!"
    O mancebo calou−se Zaratustra olhou
    atento a arvore a cujo pé se
    encontravam e falou assim
    "Esta árvore está solitária na montanha.
    Cresce muito sobranceira aos homens e
    aos animaisÃ
    E se quisesse falar ninguém haveria que
    a pudesse compreender: tanto cresceu.
    Agora espera, e continua esperando.
    Que esperará, então? Habita perto
    demais das nuvens: acaso esperará o
    primeiro raio?"
    Quando Zaratustra acabava de dizer
    isto, o mancebo exclamou com gestos
    veementes:
    "E verdade, Zaratustra: dizes bem. Eu
    ansiei por minha queda ao querer
    chegar às alturas, e tu eras o raio que
    esperava. Olha: que sou eu, desde que
    tu nos apareceste?