segunda-feira, julho 27, 2009

Arrumando as malas


De repente, me peguei pensando no que essa expressão ( aparentemente normal ) representa em minha vida.Durante minha estadia aqui ( e ainda hoje! ) vivo arrumando as malas. Arrumo as malas pra viajar, pra me mudar, pra me livrar de tudo que não me serve mais. Dentro das malas, ás vezes, cabe tudo. No mais, quase nada. Quando pequena, vivia arrumando malas ( literalmente!!! ). Era um corre-corre, um pega-pega, um chora-chora, um trauma-trauma. Na verdade, essas tais malas da infância continuam arrumadas aqui dentro. Eram muitas, mas já estou conseguindo tirar de dentro delas tudo que não me faz bem e deixá-las abertas pro que é verdadeiramente bom. Graças a Mi! Vivaaaaa!!!!
Mas, bem, no decorrer do processo traumático-evolutivo da minha vida, parece que sempre estou pronta pra ir embora, ou melhor, pronta pra "arrumar as malas".
Arrumo e desarrumo.
Arrumei minhas malas quando me rebelei. Quando achei que a vida se resumia a ser hippie, cantar músicas de Janis, tomar cachaça com mel, pegar carona adoidado e cultivar ( ou acreditar ) em algumas amizades. Desarrumei percebendo que ainda sou hippie ( tá na alma!), ainda canto músicas de janis e cia. Mas vejo o pôr do sol. Cuido da minha saúde, continuo lendo muito e percebendo mais ainda. E carona, só na calda do cometa pra ver a Via Láctea, estrada tão bonita! rs...
Arrumei as malas quando encontrei o amor. E foi tão mágico, tão puro, tão quente, tão intenso, que coloquei-me toda na mala e fui. Fiquei, durante muitos anos, nesse estado febril de apaixonamento. Ai, que saudade que dá. Mas os resquícios da mala da infância ainda pipocavam dentro de mim e se misturaram com as da nova mala e houve colisão. Não fui feliz. Não soube fazer quem amava? feliz. Uma pena. A gente combinava tanto. Se amava tanto. Se desejava tanto . ( e como!!!). É. Uma pena. Mas, desarrumei a mala, quando percebi que já não nos conhecíamos mais, quando o encanto se desfez. Mas essa é um tipo de mala que não irei conseguir arrumar de novo ( pelo menos agora eu vejo assim ), pois eu não quero outra mala. Queria essa mala arrumadinha do jeitinho que era e sempre foi. O encanto acabou. Tive que arrumar a mala à força, pois tava muito pesada. Sentei em cima. Boa pra frente.
Daqui a pouco começo a arrumar uma mala parecida, ou melhor, quem sabe? A vida é assim. Mas que seja mais leve, ó Deus! Não será igual, nada é igual. Mas pode ser que seja uma mala boa, cheia de amor e de surpresas...
Como disse antes, quero arrumar as malas, daqui pra frente, só pra o que me faz feliz.
No momento, as malas estão aqui quietinhas, na cama, abertas, esperando a próxima aventura.
Sendo assim, vou terminar com um trecho de uma música que amo de Nando Reis, que amo




Somos se pudermos ser ainda
Fomos donos do que hoje não há mais.
Houve o que houve é o que escondem em vão,
Os pensamentos que preferem calar,
Se não, irá nos ferir um não -
Mas quem não quer dizer tchau.
A gente não percebe o amor
Que se perde aos poucos sem virar carinho.
Guardar lá dentro amor não impede,
Que ele empedre mesmo crendo-se infinito.
Tornar o amor real é expulsá-lo de você,
Prá que ele possa ser de alguém!

2 comentários :

  1. Anônimo disse...

    seu blog é lindo.
    e vc também.
    beijo

  2. Anônimo disse...

    Olá novamente cara amiga Juliana.
    Ao ler estas suas reflexões, em um dia, ou melhor, em uma noite não muito feliz para mim, resolvi fazer outras reflexões. Apoiadas e só possíveis pelas suas palavras originárias, segue-se um texto um tanto quanto desencantado e também otimista (como isso pode ser possível?). Contudo, é um texto que não se pretende enfadonho, mas, ao contrário, pretende, de um modo muito ousado e presunçoso, implantar uma lógica suplementar de interpretação.

    Acredito, a ponto de afirmar e discutir, que os espaços liminares que a lógica estrutural da sociedade "globalizada" criou, são espaços privilegiados para se entender alguns aspectos fundamentais da nossa conflituosa existência.

    O que estou entendendo por "espaços liminares"? Aí vão alguns exemplos: rodoviárias, aeroportos, trevos, e em última instância uma metáfora de nós mesmos: a dúvida. Nestes espaços, nestes "entre-lugares", nestas fronteiras irruptivas, é impossível não nos colocarmos em uma atitude reflexiva, a partir da qual é possível flagrar, se não todos, boa parte dos condicionamentos culturais que nos orientam e nos predeterminam. Daí a felicidade temática do seu texto.


    Gostaria de finalizar estas rápidas palavras com duas citações de um pensador que nos últimos dias tenho me dedicado a estudá-lo. Aproveito para realizar uma rasura no meu texto: não serei eu que implantarei uma lógica suplementar de interpretação ao seu texto, mas sim tal pensador com poucas, profundas e inquietantes palavras.

    Favor ao ler fronteira entenda também entre-lugar:

    "Uma fronteira não é o ponto onde algo termina, mas, como os gregos reconheceram, a fronteira é o ponto a partir do qual algo começa a se fazer presente."
    Martin Heidegger

    "Sempre, e sempre de modo diferente, a ponte acompanha os caminhos morosos ou apressados dos homens para lá e para cá, de modo que eles possam alcançar outras margens... A ponte reúne enquanto passagem que atravessa."
    Martin Heidegger

    No mais nos resta muito pouco, mas que, humanamente, consideramos de extremo valor...

    Renan Figueiredo